A Verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo" (Merleau Ponty)

 

            Ao olharmos para o mundo este nos transforma. A relação entre nós e o mundo nos faz sintetizar o que conhecemos dele, impulsionando-nos como agentes transformadores.

           Nossa ideia de conhecimento do mundo está inserida na sociedade em que vivemos, esta é formada por diversos elementos da realidade como o mito, a religião, o senso comum, a ciência, a arte e enfim a filosofia, porém nossa ideia de conhecimento não reflete o mundo de fato.

            A sociedade que vivemos é permeada de ideologias, pois no decorrer de sua constituição, dividida em classes, vem reafirmando e justificando a dominação de um indivíduo sobre o outro.

            "Desideologia" refere-se ao processo de desconstrução das relações de poder sedimentadas ao longo da nossa história, através das ideologias. A educação cumpre papel fundamental, pois sendo um instrumento crítico deve refletir sobre seus objetivos e ações, sob este prima "desideológico", e estimular mudanças, reforçar teorias e práticas na reconstrução do conhecimento.

            Reaprender a ver o mundo, significa repensá-lo em sua totalidade, eis o papel da filosofia: duvidar do próprio conhecimento.

 


 

 

SA2 - Como Funciona o Intelecto

Empirismo é um movimento que acredita nas experiências como únicas, e são essas experiências que formam idéias. O empirismo é caracterizado pelo conhecimento científico, quando a sabedoria é adquirida por percepções; pela origem das idéias por onde se percebe as coisas, independente de seus objetivos e significados.

 

 

Empirismo e Teoria do Conhecimento.

No século XVII, Descartes fundou o racionalismo, difundido pelo continente europeu, representado por Spinoza na Holanda e Leibniz na Alemanha.
Seguindo então o modelo das exatas, principalmente da matemática, defendendo idéias abstratas e o inatismo como ponto de sustentação da ciência e garantia da possibilidade concreta da construção do conhecimento.
Conceitos que, inclusive, forjaram uma ética que procederia do ser, seria inata, estando na essência do sujeito.
No mesmo período, em oposição, surgiu na Grã-Bretanha, sobretudo na Inglaterra, o empirismo, representado por John Locke, Thomas Hobbes, George Berkeley e David Hume.
O empirismo defendia a idéia de que o conhecimento só podia ser construído através dos sentidos, de experiências concretas, particularizadas.
Seria, portanto, impossível alcançar leis universais, como pretendiam os racionalistas.
Um embate que dominou a Idade Moderna, passando necessariamente pela Teoria do Conhecimento.
 
 
Concepções empiristas.
O modelo empirista de construção do conhecimento estava baseado nas chamadas Ciências Experimentais, tal como botânica, química, astronomia e mecânica.
Eram ciências contrárias ao inatismo e que negavam conceitos clássicos da filosofia, a exemplo de “essência” e “ser”, considerados puro nominalismo,
Este ultimo termo se refere a conceitos que não passam de nomes, estariam esvaziados, pois refletiriam sensações e não concepções racionais.
Neste sentido, os empiristas tencionavam alcançar a verdade tentando antecipar experiências, sobretudo, através da descoberta das leis da natureza.
O que fundou uma ética utilitarista e hedonista, baseada nos costumes úteis para tornar a convivência social possível e a vida mais feliz e prazerosa.
 
 
John Locke e o empirismo.
John Locke (1632-1704) nasceu na Inglaterra, em uma família burguesa abastada, conduzindo seus estudos para se preparar para a vida religiosa.
Estudou em Oxford, onde cursou medicina, interessando-se pela anatomia, fisiologia, química e física; onde obteve o titulo de mestre em filosofia e começou a lecionar em 1658.
É considerado um dos fundadores do liberalismo inglês e grande defensor da liberdade, tendo sido nomeado membro da Real Sociedade de Londres em 1668.
No entanto, em 1667, tornou-se médico particular do líder da oposição ao rei Carlos II, o qual foi acusado de traição e obrigado a fugir da Inglaterra em 1682.
Locke, devido a sua ligação com ele, também foi perseguido e obrigado a fugir para a Holanda em 1683.
Só voltou a Inglaterra depois do fim do absolutismo, com a Revolução Gloriosa de 1688.
Após seu retorno à pátria, em 1689, sua fama se espalhou por toda Europa, ocupando vários cargos públicos na Grã-Bretanha.
Recebeu honrarias e o oferecimento de postos administrativos e burocráticos em outros países, os quais recusou em nome de suas pesquisas.
A partir de 1689, publicou suas principais obras filosóficas, morrendo em 1704, aos 72 anos, sendo considerado o autor do texto que sintetiza o empirismo: “Ensaio acerca do entendimento humano” (1690).
 
Além desta obra, cabe destacar:
1. “Dois tratados sobre o governo civil” (1689).
2. “Alguns pensamentos referentes à educação” (1693).
3. “Racionalismo do cristianismo” (1695).
4. “Cartas acerca da tolerância” (1690).
 
No “Ensaio acerca do entendimento humano”, Locke demonstrou sua intenção de fixar a gênese, a natureza e o valor do conhecimento, estabelecendo seus limites e suas possibilidades.
Ele chegou à conclusão que a experiência é o limite, sendo os sentidos a origem de todos os tipos de idéias.
 
 
Teoria do Conhecimento.
Para Locke é impossível conhecer as substâncias, a essência das coisas, pois seria algo indistinto, impreciso e incognoscível.
A substância não poderia ser distinguida, precisada, assimilada, estando fora do alcance da experiência humana e, portanto, não poderia ser conhecida.
O que não significa que o conhecimento é inviável como um todo, mas sim que as idéias inatas não existem.
O que significaria dizer que a pretensão racionalista da construção de um conhecimento universal é impossível.
Locke pergunta como é possível existirem idéias inatas, já que conceitos morais e gostos são relativos.
Caso existissem idéias inatas, nascendo o homem com estes conceitos, todos deveríamos ter os mesmos costumes, independente da cultura e experiências individuais.
O que não acontece.
Assim, a origem do conhecimento estaria nos sentidos e na experiência.
Como Aristóteles, Locke defendeu a idéia de que o conhecimento da realidade depende da junção de graus.
No entanto, enxergava a mente humana como uma “tabula rasa”, um papel em branco que, só à medida que é preenchido pelos dados dos sentidos e da experiência, permite organizar o conjunto de páginas escritas, uma a uma, para tentar entender o mundo.
 
A realidade seria percebida pelos sentidos, produzindo:
1. Sensação: idéias externas que vem a partir dos sentidos, como cor, sabor, frio, quente, etc.
2. Reflexão: idéias internas, percebidas pela mente, como impressões, experiências internas.
 
Neste sentido, as idéias produzidas por estímulos externos e internos, pelo simples fato de terem sido produzidas pelos sentidos e a experiência, fornecem um indicio de que a realidade existe.
Entretanto, estas idéias não permitem obter certezas, apenas ajudam arriscar possibilidades, uma probabilidade de entendimento da realidade.
Alcançar a verdade, portanto, não é entender a realidade, mas estabelecer uma coerência entre as idéias possíveis, produzindo o que chamamos de ciência, a busca por verdades provisórias.
 
 
Concluindo.
Segundo Locke, as idéias seriam representações mentais da realidade e o conhecimento apenas a combinação das idéias pela mente.
O filosofo entendia idéias como a realidade percebida pelos sentidos, enquanto o conhecimento seria aquilo que percebemos combinado com outras percepções, representadas na mente pelas ditas idéias, produzindo algo novo.
Portanto, o conhecimento nada mais seria que a junção do que já conhecemos, o já percebido, com  novas percepções.
A exemplo do que ocorre com as figuras de gestalt, perceber o objeto dependeria da associação que fazemos com o já conhecido.
 
Ao realizar esta operação, a mente humana produz dois tipos de idéias:
1. Simples: derivadas de sensações ou reflexões simples, onde o intelecto seria passivo, refletindo pura e simplesmente a realidade percebida ou vivenciada pela experiência, comum a todo ser humano.
2. Complexas: derivadas da combinação das idéias simples, refletindo qualidades subjetivas, pois depende da combinação que cada sujeito estabelece.
 
O conceito de idéias complexas conduziu Locke a sustentar a opinião que o conhecimento é relativo e que, portanto, não é possível falar em idéias universais.
O que remete novamente a discussão da substância, já que a essência seria, teoricamente, universal e imutável, algo cuja existência seria impossível por não existirem idéias universais na concepção empirista.
Para Locke, as idéias universais não passam de nomes (nominalismo), são só uma convenção humana que não tem correspondência com a realidade, porque não podem ser sentidas ou experimentadas.
A conseqüência da negação da substância é a negação absoluta da metafísica.
O que traz em si uma negação indireta da existência de Deus.
Segundo Locke, o conhecimento só pode se dar pela sensação, intuição ou demonstração; como Deus não pode ser percebido pelos sentidos, combinado conceitualmente com uma idéia que confirme sua existência, ou demonstrado; a existência de Deus seria negada.
No entanto lembremos do contexto histórico da época do autor, a Inglaterra não era católica, desde 1534 havia passado a ser anglicana, quando Henrique VIII, irritado com a recusa do Papa em anular seu casamento com Catarina de Aragão, auto proclamou a si mesmo chefe da igreja na Grã-Bretanha.
Como bom cristão, Locke, embora não católico. precisou resolver este problema da existência de Deus.
O que fez através do argumento da “Fé como Probabilidade”.
Para ele, embora não tenhamos como provar a existência material de Deus, o simples fato de sentirmos que deve existir, garante que provavelmente existe.
 
 
Para saber mais sobre o assunto.
SANTOS, Jose Henrique. Do empirismo a fenomenologia. São Paulo: Loyola, 2010.
 
 
Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em História Social pela FFLCH/USP.
Bacharel e Licenciado em Filosofia pela USP.
 

 

 

SA3 - Intrumentos de Pesquisa em História da Filosofia

 

SA 4 - Áreas da Filosofia

Divisões da Filosofia

 

 

Visto que a Filosofia enquanto ciência teve em sua área de abrangência e em sua forma de estudo muitas alterações e limitações, de acordo com a época em que era tratada e com a linha de pensamentos predominante das diversas “escolas” que foram surgindo, que iam se extinguindo; porém, deixando sempre um legado filosófico de pensamento, é quase impossível rotular, ou mesmo conceituá-la enquanto área de atuação, uma vez que engloba uma gama imensa de conhecimentos, e enquanto ciência uma vez que, como foi dito, sofre muitas alterações na maneira com que se é tratada e estudada.

Elaborar uma definição que descreva a Filosofia, como uma espécie de verbete, é uma tarefa arriscada, uma vez que essa conceituação possa ficar ultrapassada em pouco tempo, além de ser como "filosofar a respeito da filosofia", um típico exercício metalinguístico.

Dito isso, podemos concluir que a Filosofia nunca terá, pelo menos ao que tudo indica, uma definição universalmente aceita, sofrendo essa, inúmeras modificações no curso de sua existência.

Porém, a filosofia tem, por razões de conveniência e uma melhor estruturação, áreas a serem abordadas, subdivisões agrupadas em temas, as quais podem ter um caráter classificatório, ao contrário do termo Filosofia como um todo, uma vez que não perdem a razão de ser com o tempo. Pode até ser que surjam (o que não é improvável), outras subdivisões de acordo com novas temáticas que possam se fazer pertinentes com o avanço dos estudos filosóficos, se adequando à corrida evolutiva do tempo.

São estas as subdivisões citadas acima, conforme a área de investigação e estudo:

Metafísica

 

Do grego (metà), que quer dizer 'depois de além, ou além de'; e physis = física ou natureza. Ou seja, metafísica significa: além do físico ou além da natureza.

Grosso modo, pode-se dizer que é o estudo do “ser enquanto ser” uma ontologia, a ciência do ser.

A metafísica tem como objetivo principal buscar a essência, a natureza específica de todas as coisas, fornecendo uma visão ampliada e dinâmica do mundo, que reúna os diversos aspectos da realidade, estudando além do que a experiência sensorial possa descrever, transcendendo o que o podemos ver ou tocar. Ou seja, estuda coisas interiores e exteriores ao ser, coisas que possam ser da existência dependente ou derivada, coisas que existam por si próprias ou que dependam de outras para existir.

Em síntese, pode-se dizer que a metafísica visa nos oferecer uma visão do real, tal e qual como é, além do que a aparência possa nos dizer, indo além do físico e do palpável, estudando, também e mais enfaticamente, as experiências e sensações.

Epistemologia

 

Do grego (episteme), que quer dizer conhecimento ou ciência e logia/logos = estudo, ou discurso, ou seja, estudo do conhecimento.

É também chamada de teoria do conhecimento. A epistemologia estuda as origens, causas e métodos utilizados e limites dos mais variados tipos e definições que se tenha para conhecimento. Tem uma ligação direta com a relação de crença: uma vez que ela também gera conhecimento, deve ser alvo e objeto de estudo da epistemologia. Resumindo: é a investigação prática do conhecimento enquanto conhecimento, o estudo do saber, como aprendê-lo e onde aplicá-lo.

Lógica

 

Derivada do grego (logos), quer dizer pensamento / estudo. É a ciência que estuda a funcionalidade dos métodos de pensamento, que tem uma origem matemática, visando uma exatidão no que seja um método, buscando, assim, diferenciar um pensamento ou método relativo de um pensamento exato e lógico.

Pode-se dizer, sem equívocos, que a lógica é uma espécie de reguladora do pensamento, do bem pensar, ou seja, um pensamento (ou a busca dele) que visa à verdade, uma vez que a propriedade principal do conhecimento é essa, segundo a Filosofia.

A lógica fundamenta-se em buscar a exatidão para que se criem métodos seguros de pensamento, uma vez que o pensar é a manifestação visível ou não do conhecimento e que o conhecimento é, em suma, a busca da verdade, independente do que seja essa verdade, conforme a linha de pensamentos que se exerce.

Uma cadeia de estudos lógicos busca, de maneira a estimular as propriedades cognitivas do ser humano, estabelecer padrões de pensamentos. Uma espécie de manual, ou cartilha de “como se deve pensar para que não se pense equivocadamente”.

Ética

 

Do grego = ethos; que quer dizer caráter, modo de ser ou comportamento.

A ética é o estudo da moral e visa encontrar a melhor forma de se viver em sociedade e individualmente para com a sociedade.

Embora analise a moral enquanto marco para um dos pontos de partida de seus estudos, a ética se diferencia fundamentalmente dessa (moral) no seu sentido essencial.

Enquanto que a moral se dá por meio de obediência às regras, estatutos, convenções hierarquias, hábitos de cultura e religião, entre outros, a ética visa essa melhor vivência do ser humano em sociedade, através do pensamento.

Ou seja, a ética visa estabelecer o exercício da consciência, do que se é certo e errado.O estudo ético abrange todas as áreas de conhecimento possíveis, estabelecendo limites para a boa execução dessas ciências de maneira a estimular a consciência humana, a fim de que funcione como um limitador saudável tanto para o próprio indivíduo, quanto para o meio social em que se está sendo desenvolvida essa ciência e esses pensamentos.

Em síntese, um conceito mais atual de ética é: “a área de conhecimento filosófico que estuda as normas morais nas sociedades humanas”, buscando entender os padrões morais de cada sociedade e solucionar os seus dilemas, decorrentes desses padrões.

Filosofia Política

 

É o campo de investigação filosófica que tem por objetivo o estudo das relações humanas em seu mais amplo sentido, englobando, também, por ser uma das mais notórias formas de relações humanas, entendendo-se política como qualquer forma de organização humana (no modo geral da palavra, que quer dizer a arte da organização, seja de um estado, ou mesmo de pessoas entre si).

Focalizada nas organizações de estados e cidades-estado na Grécia antiga, os pensadores dedicados à Filosofia política tentavam entender até onde iam os limites de uma sociedade tida ou caracterizada como justa e ideal.

A Filosofia política visa, de forma a entender e estruturar conceitualmente as formas de governo, verificar os limites e uma melhor forma de execução das relações entre estado, moral, sociedade e indivíduo.

Estética

 

Do grego: aisthésis; que quer dizer percepção ou sensação. Estuda basicamente e, primordialmente, a natureza do que é belo e das características e fundamentos da arte.

É o estudo da arte, em suma, seja ela criada ou natural. A estética estuda o julgamento frente ao belo, observando as percepções individuais e coletivas de uma reação gerada por um fenômeno estético, desde a admiração da natureza em si, até as obras criadas por mãos humanas.

 

Marcos Tadeu - PCNP Filosofia