2 Bimestre

SA 5

Introdução à Teoria do Indivíduo

 

Teoria do Indivíduo busca refletir sobre aspectos inerentes aos seres humanos, como, por exemplo, a forma que eles integram-se à natureza e à sociedade e suas perspectivas de responsabilidade e pertencimento, bem como identificar as diferentes concepções dos indivíduos, os processos sociais que merecem críticas e as noções de alienação moral e construção social.

Três pensadores foram essenciais para a construção da Teoria do Indivíduo: John Locke, Jeremy Bentham e Stuart Mill. Hoje, falaremos um pouco sobre cada linha de pensamento, através das quais poderemos refletir eticamente sobre a ação e a conceituação do indivíduo.

O indivíduo segundo John Locke

John Locke

John Locke – 1632 a 1704

John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês contratualista. Locke foi um grande defensor do empirismo inglês. Essa corrente filosófica defendia a ideia de que todos nós nascemos como se fôssemos uma grande página em branco e que todo o nosso conhecimento era adquirido a partir de experiências vivenciadas. Em outras palavras, esse era o estado de natureza do homem.

De acordo com o pensamento de Locke, os indivíduos em seu estado de natureza são livres, vivem sempre em igualdade (uma vez que a natureza lhes proporciona as mesmas vantagens) e, assim, não são dependentes das vontades e desejos de outros homens. Dessa maneira, como a vida é instituída apenas por leis e vontades próprias, a razão norteia todas as ações e pensamentos, fazendo com que os indivíduos vivam em paz.

Então, quando o homem sai de seu estado de natureza e cria uma sociedade? Quando um homem reprime o outro, impondo as suas vontades e os seus desejos, inicia-se uma espécie de guerra. A fim de recobrar a paz (que, como vimos anteriormente, é uma característica do indivíduo em seu estado de natureza) é necessário utilizar-se do poder político, cujo objetivo é fazer com que os indivíduos vivam em uma sociedade governada por leis e possam preservar sua liberdade.

Direito natural: o direito natural representa a ideia de que nascemos com direitos que são inerentes aos seres humanos, que são a liberdade, a igualdade e a garantia de vida.

Direito positivo: o direito positivo representa o conjunto das leis criadas pelo homem para poder viver em sociedade, ou seja, são todos os códigos e constituições artificiais criados para que a sociedade tenha os seus direitos respeitados.

Para Locke, o indivíduo é possessivo, ou seja, possui sua liberdade vinda da natureza e se torna rico quando explora o outro.

Introdução à Teoria do Indivíduo: John Locke, Jeremy Bentham e Stuart Mill

A Teoria do Indivíduo busca refletir sobre aspectos inerentes aos seres humanos

O indivíduo segundo Jeremy Bentham e Stuart Mill

Os outros dois expoentes da Teoria do Indivíduo foram o jurista e filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832) e o economista e filósofo britânico Stuart Mill (1806-1873). Ambos defendem as mesmas ideias no que diz respeito aos indivíduos.

A corrente defendida por Bentham e Mill diz que o homem é apenas um ser que possui desejos e prazeres e que esses devem ser buscados a todo custo. Para atingir isso, os homens criaram uma ciência moral e ética exata, como a matemática, que busca o ápice do prazer e a atenuação da dor. Resumidamente, a finalidade da existência do homem é o prazer.

Ao contrário do pensamento de Locke, que diz que todos os indivíduos nascem e vivem em igualdade, já que a natureza lhes proporciona os mesmos benefícios, Bentham e Mill defendem que a igualdade não é natural, e sim construída em meio à sociedade.

Para Bentham e Mill, o indivíduo é utilitarista, ou seja, a sociedade tem a obrigação de buscar a igualdade já que essa é muito mais útil para a produção dos prazeres. Além disso, eles não vêem com bons olhos nenhuma relação de subordinação, como patrão-empregado, ricos-pobres, homem-mulher.

 

SA 6

Tornar-se Indivíduo

 

 

1. Tornar-se indivíduo 

1.1 Paul Ricoeur

Nasceu em Valence (1913) e morreu em Chatenay Malabry (2005); filósofo francês do período que seguiu a II Guerra Mundial. Estudou na Université Paris Sorbonne – Paris IV - França, na Université Catholique de Louvain – Belgica e foi pesquisador na Yale University – EUA.

1.2 Como nós pensamos o indivíduo? 

• Indivíduo possui duas dimensões (1) como membro de uma sociedade, (2) ser independente e autônomo “sentido moral”
• Homem é um indivíduo autônomo e independente.
• Paul Ricoeur questiona o processo de individualização. Como nos individualizamos? Nos individualizamos através da LINGUAGEM.
LINGUAGEM é o ponto de partida; por meio dela nos expressamos e dizemos o mundo, ou seja, é a uma forma de colocar para fora aquilo que pensamos. Através da linguagem o ser humano é capaz de dizer o indivíduo de três formas:

I. DESCRIÇÕES DEFINIDAS: existe um entrecruzamento de categorias para designar um indivíduo “O executivo que sempre compra o jornal de esportes”
EXECUTIVO: de todos os executivos nos referimos ao que sempre compra o jornal de esportes.
JORNAL DE ESPORTES: de todas as pessoas do mundo nos referimos ao indivíduo que sempre compra o jornal.

II. NOMES PRÓPRIOS: definição específica e permanente (singularidade do indivíduo) “Luis eu me refiro ao Luis, resta me especificar suas propriedades: O Luis da casa azul da esquina.”

III. INDICADORES: que podem ser pronomes pessoais (eu e tu); pronome demonstrativo (isto e aquilo); advérbio de lugar (aqui e além); advérbio de tempo (amanhã e agora); além de outras categorias gramaticais.
Os indicadores são diferentes dos nomes porque podem designar seres diferentes.

1.3 Ipseidade

IPSEIDADE é a fala que usamos para dizer o que pertence ao indivíduo à sua singularidade. Aquilo que entre os vários de uma espécie, diferencia um só.
Somos seres que nos caracterizamos por intuir o mundo pela linguagem. Ela nos proporciona o que somos: seres que fazem uso desta linguagem para se expressar, ouvir e interpretar.
Dizer quem somos: quem é este (eu), para falar deste (eu) temos que narrar e ao narrar somos obrigados a dizer a ação desse sujeito.


2. A sujeição 

2.1 Michel Foucault (1926 – 1984)

Michel Foucault nasceu em Poitiers (15 de junho de 1926) e morreu em Paris (25 de junho de 1984). Graduou – se em Filosofia pela École Normale Supérieure em 1948 estudou também psicologia, história e medicina.
O Filósofo estruturalista foi um dos idealizadores do Departamento de Filosofia da Universidade Paris – Vincennes (Paris – VIII). Levaria consigo para este departamento os filósofos: Gilles Deleuze, François Châtelet. Em 1970 assume a cátedra de História dos Sistemas de Pensamentos no Collège de France ministrando seus cursos até sua morte em 1984.
Foucault militava a favor das causas sociais participando dos protestos estudantis daquele período e em 1971 criou o GIP (Grupo de Informações sobre Prisões).

Obras:
História da Loucura na Idade Clássica - 1961
Arqueologia do Saber - 1969
Vigiar e Punir - 1975
História da Sexualidade (3 volumes0
1. A Vontade de Saber – 1976
2. O Uso dos Prazeres – 1984
3. O Cuidado de Si – 1984

2.2 Vigiar e Punir 

Na Idade Moderna o corpo se torna alvo de dois tipos de pesquisas (1) anátomo – metafísica e outra (2) técnico – política.
A relação corpo anátomo – metafísica busca entender as funções do corpo procurando compreender como um conjunto moral. Exemplo: braço. O que é? Para que serve? Como funciona? Qual sua função biológica e moral? Esta forma de observar o corpo era sobre tudo dos médicos e filósofos.
O corpo observado a partir da visão técnico - política encaminha o corpo para adaptar – se ao ideal de vida social, utilizando técnicas para fazer com que a pessoa fosse capaz produzir algo, exemplo: como transformar uma pessoa molenga em um atleta ou como fazer um trabalhador produzir mais em menor tempo.
É possível perceber que Foucault observa as técnicas usadas para dominar e domesticar o corpo na Idade Moderna.

2.3 Práticas disciplinadoras das Instituições Modernas

A) DISTRIBUIÇÃO: colocar o indivíduo em um lugar escolhido por nós.
• Construir muros e cercas para separar as pessoas do contato com a sociedade para evitar problemas.
• Separar em grupos fazer com que cada um encontre seu espaço.
• Lugar funcional colocar a pessoa em um espaço em que possa ser vigiada.
Toda a separação tem um ideal de fila para prevalecer a hierarquia.

B) Controle de Tempo
• Pelos horários: hora para chegar, sair, almoçar...
• Marcar o tempo de sua ação: quantas peças o funcionário produz em uma hora.
• Disciplinar o corpo: para fazer bem feito.
• Adaptar o corpo aos objetos.

C) Controle de Gêneses 
• Separar o veterano do aprendiz.
• Necessidade de exercícios: separar aqueles que precisam treinar mais para melhorar seu desempenho.
• Testes para medir a habilidade.
• Dar atividade conforme as habilidades de cada um.

D) Recursos para um Bom Adestramento
• Vigilância: observar para corrigir ou punir.
• Sanção: formas de punir as pessoas que não cumprem seus deveres.
• Exame: ao saber que vão ser testados os indivíduos se autovigiam.
• Documentação: produzir o histórico da pessoa.


Bibliografia: Caderno do Professor: Filosofia, Ensino Médio – 2ª Série, Volume 2. Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Adilton Luis Martins, Luiza Christov, Paulo Micelli, Renê José Trentin Silveira, - São Paulo; SEE, 2009.

Site: https://pt.wikepedia.org/wiki/Michel_Foucault acessado em 10 de novembro de 2009.

REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol 3. São Paulo, Paulus. 2005. p. 949-952.

Revista: Discutindo Filosofia. Escala Educacional. Ano 1. Nº 6.